segunda-feira, 20 de julho de 2009

Você é um evangélico supersticioso?

Ser um evangélico supersticioso é estar fadado a uma vida cristã neurótica e frustrada. Além disso, é uma tremenda contradição, porque as raízes históricas e teológicas do protestantismo sempre foram contra toda e qualquer manifestação supersticiosa. E não poderia ser diferente, já que a Bíblia é frontalmente contra todo tipo de supersticiosidade. Mesmo assim, o que mais existe hoje são evangélicos supersticiosos.

Ao lermos a História da Igreja, vemos que quando ocorreu a Reforma Protestante no século 16, uma das grandes bandeiras dos reformadores era o fim do misticismo medieval e da supersticiosidade religiosa. O protestantismo foi um dos grandes promotores do fim da superstição da Idade Média, que havia sido implantado por um catolicismo cada vez mais decadente. É só reexaminarmos a História e veremos que, antes da Reforma, o mundo medieval era cheio de fantasmas, duendes, gnomos, demônios, anjos e santos. O povo era ignorante, extremamente supersticioso e não tinha acesso à leitura. A própria Igreja Católica Romana alimentava e explorava isso. Foram os evangélicos que combateram tudo isso, inclusive apoiados por intelectuais da época. Infelizmente, porém, há muitos grupos hoje que se dizem evangélicos, mas que parecem querer reeditar esse período negro da História.

Exemplos de superstição evangélica hoje

Nos últimos anos, têm surgido modismos que claramente chocam-se com as Sagradas Escrituras e significam um retrocesso na luta protestante. Muitos grupos que se dizem protestantes pregam e praticam coisas que envergonham o protestantismo.

Alguns casos de supersticiosidade entre evangélicos são menores, outros são mais graves. Alguns exemplos do primeiro tipo são deixar a Bíblia aberta no Salmo 91 para afastar desgraças; utilizar a expressão Tá amarrado! de forma séria, como uma espécie de precaução espiritual; abrir a Bíblia aleatoriamente para tirar um versículo que funcione como a orientação de Deus para tomarmos uma decisão; trocar a leitura sistemática e regular da Bíblia pela caixinha de promessas; reputar que a oração no monte tem mais eficácia do que a feita dentro do quarto ou na igreja; dormir empacotado para que Deus, ao nos visitar à noite, não se entristeça; e acreditar que objetos ou algum suvenir de Israel (pedrinhas, água do Rio Jordão, folhas) têm algum poder especial.

Exemplos do segundo tipo são superstições que são exatamente uma volta à teologia romanista da Idade Média. Se não, vejamos: Não seria o uso de elementos como galhinho de arruda, sal grosso e copo d'água na liturgia uma volta ao misticismo medieval, tão condenado pelos reformadores? A teologia da maldição hereditária não seria um vilipêndio à doutrina da graça e uma superstição religiosa em sua essência? E o que dizer do uso indiscriminado do óleo da unção? E da angelolatria? E do modismo da batalha espiritual, interpretada de forma diferente do que diz a Bíblia?

No caso da teologia da maldição hereditária, ela declara insuficiente a obra de Cristo na vida da pessoa, pois afirma que, depois de salvo por Jesus, o cristão deve desenterrar o seu passado e o de seus familiares para quebrar uma a uma todas as possíveis maldições que acometeram seus antepassados e que ainda repousariam sobre ele, se não a libertação não será completa. Além de não ter base bíblica (2Co 5.17), essa teologia defende um princípio quase reencarnacionista, estabelecendo um carma na vida da pessoa a partir de seus parentes.

Textos como o de Êxodo 20.5-6 não falam da extensão do juízo divino, mas da sua duração sempre que houver necessidade. Em outras palavras, sempre que houver necessidade de juízo, haverá juízo. Os justos que são filhos de pais ímpios não pagam pelo pecado dos pais (Rm 8.1). A responsabilidade é pessoal (Ez 18.19-20 para ficar ainda mais claro, o ideal é ler todo o capítulo).

O uso indiscriminado do óleo da unção é antibíblico. A única aplicação possível hoje está clarificada em Tiago 5.14. No tempo do Antigo Testamento, o óleo tinha outras aplicações, mas, no Novo Testamento, seu uso nas atividades religiosas da Igreja passa a ser muito específico. O texto bíblico é claro: (1) deve-se ungir apenas as pessoas que estão enfermas, (2) esta unção com óleo deve ser feita em nome do Senhor, (3) deve ser efetuada apenas pelos obreiros da igreja (4) e acompanhada de oração pela cura (Tg 5.14,15). Outro detalhe: não há nenhuma orientação bíblica para que a unção seja feita exatamente sobre o lugar da enfermidade. Basta ungir o enfermo (Tg 5.14). A unção com qualquer outro propósito não é válida. Ou seja, ungir territórios, carros, casas, endemoninhado, etc, é absolutamente antibíblico.

No Velho Testamento, eram atividades comuns a unção com óleo sobre pessoas por outros objetivos que não a cura (consagração de reis, por exemplo) e a unção sobre objetos. Porém, não há nenhuma passagem do Novo Testamento que justifique o uso desses tipos de unção nos dias de hoje. Portanto, qualquer pessoa que se arvora a ungir as pessoas sem se enquadrar com o ensino bíblico do Novo Testamento está errada.

Angelolatria

A angelolatria é culto a anjos, e isso é heresia (Cl 2.4,18-19; Ap 22.8-9). Porém, nos últimos anos, o culto aos anjos se infiltrou fortemente na cultura popular e depois nas igrejas. Isso se deve, obviamente, à forte onda do movimento Nova Era, que se ergueu no final do século 20.

Em 1993, quando os ensinos novaerenses estavam em alta, a revista Newsweek chegou a colocar em destaque em uma de suas edições uma matéria intitulada: Anjos estão aparecendo em todos os lugares da América. Essa matéria foi um marco da angelomania que tomava conta dos Estados Unidos na época. Na reportagem, pessoas de todas as partes do país garantiam ver constantemente anjos, conversar com eles e até pô-los em contato com outras pessoas. Era o auge da febre dos anjos.

Com essa onda, a Nova Era passou a popularizar a concepção de que a idéia do Deus cristão estava falida. Para eles, o Deus dos cristãos era duro e antipático, enquanto os anjos eram dóceis e simpáticos. Assim, as pessoas passaram a conversar com seus anjos da guarda, a dirigir-lhes lacrimosas orações e a atribuir qualquer sucesso na vida a esses seres, e não mais à misericórdia divina.

A escritora norte-americana Sophy Burnham, adepta da Nova Era, foi uma das fomentadores dessa substituição de Deus pelos anjos na mente das pessoas. Em seu livro A book of angels, ela diz que a corrente popularidade dos anjos se deve ao fato de termos criado este conceito de Deus como punitivo, judicioso e ciumento, enquanto os anjos nunca o são. Eles são completamente compassivos. Em entrevista à revista Time nos anos 90, Burnham afirmou ainda que para aqueles que se sentem sufocados facilmente por Deus e suas regras, os anjos são a concessão fácil, a ausência de julgamento; são todos fofos e suspiros. E estão disponíveis a todos, como aspirina.

Batalha espiritual

Essa febre, infelizmente, acabou atingindo também as igrejas. O escritor evangélico Ron Rhodes acredita que os primeiros indícios da angelomania no meio evangélico surgiram após o sucesso, nos anos 70, do livro Anjos: agentes secretos de Deus, de Billy Granham. Não que o livro do famoso evangelista trouxesse heresias em seu bojo, mas, nas palavras de Rhodes, muitos receberam um impactante direcionamento para esse fascinante assunto pela leitura do livro de Granham.

Segundo Rhodes, um dos mais fortes incentivadores da moda dos anjos no meio cristão foi, na verdade, o mega best-seller de ficção Este mundo tenebroso, de Frank Peretti. Basta lembrar a exacerbação em torno do tema batalha espiritual após o sucesso do livro. Seminários e mais seminários eram feitos sobre o assunto, e muitos deles foram os grandes criadores de modismos e conceitos absurdos sobre a vida cristã e o mundo espiritual.

Especialmente no meio pentecostal, os anjos passaram a ganhar uma notoriedade que nunca deveriam ter. A doutrina bíblica sobre os anjos, que é esposada pelas igrejas pentecostais tradicionais, como a Assembléia de Deus, é veementemente contra essa relevância bizarra que se tem dado aos seres angelicais. No entanto, influenciados por novas igrejas (que por ainda não terem se cristalizado convivem, na sua maioria, com uma teologia inexata, sempre a caminho), muitos crentes acabam tornando-se angelomaníacos. São aqueles que vêem anjos a todo instante e não fazem nada sem a orientação angelical. Muitos afirmam ter audiências diárias com os arcanjos Gabriel ou Miguel!

A exacerbação da idéia de batalha espiritual é um dos modismos neopentecostais que promoveram os anjos a uma posição acima do normal. Esse modismo vê demônios e anjos em tudo. Se a água está muito quente, é demônio; se está muito fria, demônio. Se o vento soprou forte pela janela, são seres celestiais. Arrepiou-se? Tem capiroto na área!

Além de ver agentes espirituais do bem e do mal em tudo, esse modismo também levou as pessoas a crer em um mundo espiritual que pode ser manipulado ao bel prazer do crente. Esquece-se da soberania de Deus e valoriza-se demais os seres criados. Essa distorção teológica é na verdade um retrocesso, pois lança as igrejas de volta à teologia medieval anterior à Reforma Protestante.

Como já afirmamos, a Reforma Protestante combateu a superstição da Idade Média, implementado por um catolicismo cada vez mais decadente. O mundo medieval, cheio de entidades, fantasmas, demônios, anjos e santos, era mentalmente carregado. Nesse mundo, Cristo era fraco, os demônios eram fortes e os anjos e santos importantes. Veio, então, a Reforma e centralizou tudo na cruz de Cristo, que representa a vitória para todo o que crê e serve a Deus. Porém, infelizmente, muitos parecem querer reeditar esse hostil mundo cósmico através de uma má interpretação do tema batalha espiritual.

O perfil dos angelólatras

O apóstolo Paulo, ao advertir os cristãos em Colossos sobre os falsos ensinamentos, definiu bem o perfil dos angelólatras: E digo isto para que ninguém vos engane com palavras persuasivas (...) Ninguém vos domine a seu belprazer, com pretexto de humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, e não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus, Cl 2.4,18-19.

Paulo afirma no texto supracitado que os falsos mestres ensinavam a necessidade de reverenciar e adorar os anjos, pois, segundo eles, os seres angelicais funcionariam como uma espécie de mediadores na comunhão do crente com Deus. O apóstolo rebate veementemente isso, lembrando que invocar anjos é fazer com que estes tomem o lugar de Jesus, que é o único mediador entre Deus e os homens e, por isso, a única e suficiente cabeça da Igreja (v19).

Paulo também destaca que esses falsos mestres posam de humildes e santos, por causa dessa conversa de anjos, quando, muito pelo contrário, encontram-se inchados na sua carnal compreensão. Ainda hoje, os angelólatras se apresentam como pessoas avivadas, espirituais, santas, humildes, mas na verdade estão, como afirmou o apóstolo, embriagados por uma compreensão carnal.

Essa história de ver e conversar com anjos todo dia e o dia todo, se prostrar diante deles, ter audiências com arcanjos, ser secretariado por Gabriel ou Miguel e outras coisas do tipo não passa de uma grande tolice e blasfêmia. Sim, blasfêmia, porque valorizar mais a presença de anjos do que a do próprio Deus, se prostrar diante da criatura e não do Criador, e não poucas vezes atribuir curas, milagres e libertações não a Deus, mas às criaturas angelicais, é deixar de adorar a Deus e colocar os anjos no centro do culto.

A coisa está tão cimentada que, em muitas reuniões, lembrar que Deus está presente no ambiente de adoração não tem mais o menor significado, enquanto um simples Há um anjo passeando neste recinto é o suficiente para que o povo se arrepie, chore e celebre. O reflexo também se vê nos hinos, onde quem cura, batiza no Espírito Santo e transforma vidas não é mais Deus, mas os anjos. Quer ser curado? Receba o toque do anjo! Quer ser batizado? Deixa o anjo te tocar! Quer ser transformado? Dê lugar ao anjo de Deus na sua vida! Isso é abominável.

Razões de tanta superstição nas igrejas

A existência de casos de superstição entre evangélicos é resultante da ausência de orientação bíblica. Nas igrejas onde o povo recebe o ensino sistemático e sadio da Palavra, raramente existe isso.

O resultado de tanta superstição nas igrejas é uma quantidade cada vez mais crescente de crentes neuróticos e/ou frustrados espiritualmente. O espaço não permite, mas em meu livro Como vencer a frustração espiritual (CPAD) detenho-me com mais vagar nesse assunto em alguns capítulos. Há muitas referências históricas e bíblicas também, inclusive sobre a questão dos anjos.

A Bíblia condena a supersticiosidade

A Bíblia, diferentemente de muitas obras religiosas do mundo, não é baseada em superstições, mas é a Palavra de Deus (2Tm 3.16-17).

A Arqueologia tem mostrado dia após dia a veracidade da narrativa bíblica, mostrando que tanto o Antigo quanto o Novo Testamentos não são depositários de mitos. O Evangelho está enraizado em fatos históricos, não em mitos. Ele é baseado no testemunho ocular de vários homens, como enfatiza o apóstolo Pedro: Porque não nos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas artificialmente compostas, mas nós mesmos vimos a sua majestade (2Pe 1.16).

Além disso, a Palavra de Deus condena veementemente a magia e a feitiçaria, bem como a supersticiosidade. As fábulas, crendices e os falsos ensinos são combatidos nas Sagradas Escrituras (2Tm 4.1-4). A expressão grega traduzida por fábula nesse texto de 2 Timóteo e em 1 Pedro é mythos. Ela é usada para descrever uma narrativa que, além de fictícia, é enganosa, sendo geralmente elaborada por um mestre falso com o objetivo de iludir.

Em 1 Timóteo 1.4, Paulo exorta seu filho na fé para que não se dê a fábulas, neste caso uma referência às lendas forçosamente relacionadas a narrativas do Antigo Testamento. Elas aparecem descritas pelo mesmo apóstolo em Tito 1.14 como fábulas judaicas.

Paulo ainda chega a ironizar a superstição judaica, chamando tais crenças sem fundamento de fábulas profanas e de velhas (1Tm 4.7). O apóstolo estava querendo dizer a Timóteo que, por não terem base bíblica, por serem simplesmente invenções humanas, criações que se tornaram populares para enganar o povo, eram ímpias, só servindo mesmo para entreter as conversas de velhinhas caducas.

Já no caso do texto de 2 Pedro 1.16, a referência é às histórias fabulosas, crenças e superstições criadas pelos primeiros mestres gnósticos, que para difundi-las se utilizaram da divulgação de evangelhos apócrifos por eles mesmos escritos. Enfim, a Bíblia é enfática contra a superstição.Portanto, fujamos de todo tipo de superstição. Que a nossa fé seja absolutamente bíblica!

Silas Daniel

Deus te abençoe.

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